sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Algo

Acordei. Sim acordei. Não pude deixar de o reparar quando uma pequena quantidade de tímidos e preguiçosos raios de luz me atacaram as frágeis pupilas. Levantei-me e bocejei. Devia ter dormido 12 horas, ou mais, talvez. Toda a minha vida me voltava a memória, ainda sonolenta. Tomava noção, aos poucos, de quem era. Deveria ter dormido para nunca mais acordar, e apesar disso aqui me encontro, eu e os meus pensamentos, presos num só. Não queria existir. Não seria maravilhoso se a vida e a morte se resumissem a um botão? Um botão...E no entanto a vida mais parece um teclado que não conhecemos, carregando ao acaso, esperando por ventura acertar num botão que nos faça seguir, ou ficar. Quero ficar. Porque não me ouvem? Eu ouço quem se faz ouvir. Ah, claro. Não me posso fazer ouvir...Mas mesmo assim, que direito têm aqueles cujas vozes lhes saltam, alegres e poderosas, das bocas maldosas de não ouvirem os que, por esta ou aquela razão, se mantêm calados? É o silêncio uma forma de consentimento? Se o fosse, consentiriam os mortos voltarem à vida? Eu não, lá me deixaria ficar, no meu eterno descanso. A dor que me atinge o peito teima em ficar, o sentimento de inutilidade e fracasso perante todo um mundo. Quero chorar. Não. Não o farei. Porque a morte não me chega se chorar, ó dor, leva-me daqui para que nunca mais sofra. Não, claro que não é egoísmo, egoísmo era querer ser mesmo sabendo que não o posso. Tenho sonhos, desejos, paixões. Estarão lembrados na minha mente até ao suspiro final. Para que comigo se mantenham eternamente.

Deito-me agora novamente sonhando não me levantar. Renunciando ao que me deram sem pedir. Renunciando às lágrimas que não tardam. Renunciando-me a mim mesmo. Renunciando a ti, Vida.

Deitei-me e sofri, sofri, sofri.




P.S. - Não sei ainda o nome deste personagem, mas penso descobrir em breve.